Pioneiro do cinema brasileiro, Humberto Mauro iniciou sua carreira em 1926 e foi trazido para o Rio de Janeiro pelo produtor e diretor Adhemar Gonzaga, em 1930. Ele passou a dirigir vários filmes que foram elogiados por conter um estilo próprio brasileiro. Tambem fez mais de 230 curtas para o Instituto Nacional de Cinema Educativo. Vários destes, incluindo A Velha a Fiar (1964), se tornaram clássicos do gênero.
Filho de Gaetano Mauro, imigrante italiano, e de Teresa Duarte, mineira culta e poliglota, ele nasceu na Zona da Mata mineira dois anos depois da histórica sessão cinematográfica promovida pelos irmãos Lumière, em Paris. Quando criança, mudou-se com a família para Cataguases.
Desde cedo se dedicou à música, tocando o violino e o bandolim. Interessado também em mecânica, ingressou no curso de engenharia em Belo Horizonte, que abandonou um anos depois para voltar a Cataguases.
Como as linhas de transmissão de eletricidade chegavam à região, trabalhou na instalação de energia elétrica nas fazendas.Foi para o Rio de Janeiro em 1916, onde trabalhou como eletricista, retornando a Cataguases em 1920. Neste mesmo ano casou com Maria Vilela de Almeida (Dona Bebê), com quem permaneceria casado pelo resto da vida.
Em 1923, passou a se interessar por fotografia. Adquiriu uma câmera Kodak de Pedro Comello (pai da atriz Eva Nill), imigrante italiano a quem convenceu a se instalar em Cataguases como fotógrafo e de quem se tornaria amigo inseparável. Ambos compartilhavam de uma paixão pelo cinema, principalmente pelos filmes americanos de aventura. Admirava D.W. Griffith e King Vidor.
Em 1925, Mauro e Comello compraram uma câmara cinematográfica de 9,5 mm, marca Pathé, com a qual Mauro filmou um curta-metragem cômico de apenas 5 minutos de duração. Mostraram esse filme a comerciantes locais, tentando convencê-los a investir numa companhia produtora de filmes em Cataguases. Com o apoio financeiro de Homero Domingues compraram uma câmara de 35 mm e centenas de metros de filme. Mas o filme que resolveram fazer ficou inacabado.
Ainda em 1925, com a participação do negociante Agenor Cortes de Barros, fundaram em Cataguases a Phebo Sul América. Em 1926 realizam Na Primavera da Vida e em seguida Thesouro Perdido, um filme nos moldes dos filmes de aventura americanos, com muitas e complicadas cenas de ação. Foi premiado como o melhor filme brasileiro de 1927. Este filme contou com a única participação nas telas da mulher de Mauro, com o nome artístico de Lola Lys.
Mauro seguiu filmando. Em 1929 lançou Braza dormida, depois o curta-metragem Symphonia de Cataguases, e Sangue mineiro, longa-metragem concluído com o auxílio da atriz e produtora Carmen Santos, que estreou em janeiro de 1930. Instalado no Rio de Janeiro, foi trabalhar na empresa cinematográfica Cinédia, do amigo Adhemar Gonzaga.
Realizou Lábios sem beijos, e, no ano seguinte, fotografou o longa-metragem dirigido por Octávio Gabus Mendes, Mulher. Depois vieram Ganga bruta, – com música de Radamés Gnatalli e do próprio cineasta e a participação da conhecida atriz Déa Selva; Voz do Carnaval – inspirado numa história de Joracy Camargo, o filme lançou Carmem Miranda no cinema e foi o último trabalho de Mauro para a Cinédia.
Depois de ter enfrentado dificuldades financeiras por causa das poucas oportunidades de trabalho oferecidas pelo mercado cinematográfico, Mauro aceitou dirigir alguns documentários para Carmen Santos. Entre 1934 e 1935, filmou As sete maravilhas do Rio de Janeiro, Inauguração da Sétima Feira Internacional de Amostras da Cidade do Rio de Janeiro, General Osório e Pedro II.
A partir de então, Mauro nunca mais parou de filmar. Fosse ficção ou documentário. Em 1935, com a colaboração de Henrique Pongetti, realizou Favela dos meus amores, com trilha musical de Ary Barroso, Custódio Mesquita, Sílvio Caldas e Orestes Barbosa. Cidade mulher, de 1936, com enredo de Pongetti, contou com a única trilha sonora escrita por Noel Rosa para o cinema. Também no mesmo ano, Mauro fotografou o filme Grito da mocidade, de Raoul Roulien.
Ainda em 1936, Humberto Mauro ingressou no Instituto Nacional do Cinema Educativo – INCE, fundado por Edgar Roquette-Pinto, onde realizou centenas de filmes documentários.Nas raras interrupções em suas tarefas no INCE, Mauro filmou os longas-metragens de ficção O descobrimento do Brasil, em 1937 – um convite do Instituto do Cacau da Bahia; Argila, com elenco encabeçado por Carmen Santos, em 1940; e O canto da saudade, seu último longa-metragem, em 1952.
Depois de se aposentar no INCE, realizou entre os anos de 1952 e 1967, dezenas de curtas-metragens. Mas sua contribuição ao cinema brasileiro não se esgota aí. Mauro foi ator em Memória de Helena(David Neves, 1969); autor dos diálogos em tupi-guarani de Como era gostoso o meu francês (Nélson Pereira dos Santos, 1971) e Anchieta, José do Brasil (Paulo Cesar Saraceni, 1978); e colaborou, ainda, no argumento e no roteiro de A noiva da cidade (Alex Viany, 1979). Carro de bois, documentário rodado em Volta Grande, Minas Gerais, em 1974, e produzido pelo Instituto Nacional do Cinema, foi sua última realização cinematográfica.
Humberto Mauro faleceu no dia 5 de novembro de 1983, na cidade onde nasceu, e coincidentemente, na data em que se comemora o dia Nacional da Cultura, do Cinema Brasileiro e do Radioamador.
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